Necessidades Especiais Transitórias - Crianças hospitalizadas.
A humanização da assistência as PNEEs melhoria dos modelos de gestão nas práticas hospitalares, metodologias que melhorem o desempenho de práticas hospitalares humanizadas e de inclusão, são necessários na formação do profissional da área de saúde. A área subjetiva deixa uma falha na sua formação, o sistema de saúde brasileiro precisa se aprimorar nessa prática.
quinta-feira, 6 de setembro de 2012
ENTREVISTA
Adriana Arantes.
Quais as desvantagens limitações desse aluno com NEES se comparado as outras pessoas sem NEES?
Se
entendi a pergunta, desvantagens desse aluno hospitalizado com NEES,
comparado aos não hospitalizados? As desvantagens podem ser as mesmas
que a de outras crianças, o afastamento da escola, dos amigos, da
família, passar por procedimentos invasivos, estressantes. Outra
desvantagem que podemos citar é que da mesma forma como em outros
contextos educativos, ainda estamos tentando aprender estratégias
pedagógicas mais adequadas com as reais necessidades dessas pessoas,
como utilização de materiais adaptados.
Como ele aprende?
Aprende
construindo conhecimento a partir das oportunidades que o ambiente lhe
dispor, de relações diversas com o mundo de coisas e pessoas, que sejam
significativas, ou seja, de encontro ao ponto de conhecimento, de
desenvolvimento, que pode ser ampliado com mediação.
Quais são as potencialidades a serem trabalhadas?
As
que puderem ser captadas e ao mesmo tempo ir fazendo parte da interação
e prática pedagógica, com fim de favorecer no processo de estímulo ao
desenvolvimento como um todo. O indivíduo pode apresentar capacidade ou
preferência se comunicar através de gestos, sorrisos, da música, do
desenho, da arte, do corpo ou do Braille, por exemplo, o que deve ser
utilizado a fim de tornar os estímulos às diversas outras
potencialidades do sujeito - como de criar, se socializar, construir
conhecimentos sobre os aparatos humanos, como a leitura e escrita, a
matemática, aprender determinados instrumentos sociais como escrita –
motivadoras para ele.
Quais os recursos pedagógicos e tecnológicos a serem trabalhados com esse aluno?
Os
recursos são diversos, considerando a grande diversidade de
constituição dos sujeitos: níveis de desenvolvimento, cultura,
personalidade, e até mesmo estado de saúde, no caso. Como dissemos,
precisamos avançar muito no que se refere a desenvolver recursos
adaptados à diversidade, e portanto, necessidades e potenciais humanos.
Atualmente o principal recurso utilizado com todos os alunos é “o
encontro com o outro”, na perspectiva de “escutar”, entender e ir
elaborando ou ampliando vias de acesso para despertar interesses e
capacidades de aprendizagens do mundo à volta, procurando inserir os
conteúdos da leitura, escrita e matemática, sobretudo essas três áreas.
Nesse movimento são utilizados instrumentos que se imagina serem
propícios, desde brinquedos sonoros, móbiles, músicas, para bebês,
brinquedos multisensoriais, atividades mais elaboradas como o teatro, o
desenho, a escrita, jogos pedagógicos e assim por diante. O computador e
a internet estão começando, muito timidamente ainda, a fazer parte
desse aparato. Outro recurso utilizado é a interação social, não apenas
entre professor-aluno, família-aluno, mas o incentivo às relações do
grupo de criasnças, jovens e adultos, incentivando a realização de
atividades coletivas, por exemplo a confecção de um mural para um
evento. Neste cada um colabora com sua capacidade, e acontecem ajudas
mútuas, troca e construção de afetos, valores, concepções, idéias,
possibilidades, em que o pedagogo vai também mediando, chamando atenção
para o aparecimento de relações por exemplo, de quantidade, de produção
textual, de recurso ou forma de linguagem a ser utilizada naquele
contexto ou com aquela pessoa ou necessidade especial, e assim por
diante. É um trabalho que busca não apenas a inserção das pessoas, nem
somente construção de conhecimentos, mas de significados, valores, de
consciência de si mesmo e do mundo, no sentido que cada um tem potencial
de transformar a realidade ao mesmo tempo que é transformado por ela,
de maneira criativa e atuante. Nesse sentido, o pedagogo também se
inclui, devendo ser construtor permanente de sua prática, recursos,
teoria.
Como deve ser o processo de inclusão ou reintegração na escola é possível fazer?
Esse
processo deveria ser partilhado entre as instâncias envolvidas, até
mesmo com participação recíproca dos professores que trabalham com o
aluno; ou pelo menos acreditamos que deveria haver a participação de
professores itinerantes, pois o processo de construção de conhecimento
não inicia nem cessa no momento da hospitalização e para que fosse de
fato um “contínuo”, potencializando as aprendizagens em desenvolvimento
do aluno. O que se procura fazer é entrar em contato com a escola,
pedindo que enviem atividades, conteúdos de sala de aula, para se dar
continuidade e ao mesmo tempo facilitar o retorno à escola e
acompanhamento. Percebemos que isso é pouco para garantir uma
readaptação adequada em alguns casos. Procuramos trabalhar no hospital,
para também facilitar nesse processo, estímulo a auto-estima, à
construção afetiva-cognitiva dos sujeitos com o hábito de estudar, de
que a escola e o aprender são importantes, inclusive para a saúde, de
que estar doente quase sempre não precisa implicar parar de estudar e
que na verdade, todos precisam de ajuda em algum momento da vida, o que é
oportunidade para estabelecer novos laços de amizade e aprendizagens
recíprocas.
Como você trabalha com esse aluno enquanto professor?
Procurando
incluí-lo de maneira amistosa e afetiva, motivadora, prazerosa, na
realidade educativa hospitalar, acolhendo-o nas suas peculiaridades
motivadoras e criadoras, valorizando suas produções, expressões,
avanços, e dificuldades. Na verdade criando um ambiente propício para a
aprendizagem e o desenvolvimento, estimulando o aluno a ser
participativo, ativo, e se envolvendo nas atividades efetivamente, e
assim, construindo relações, conhecimentos, significativos. As
atividades escolares trazidas da escola são também trabalhadas, mas
através de atividades contextualizadas, incentiva-se produções de texto;
exercícios de resolução de problemas, por exemplo, quantas bolinhas
seriam necessárias para realizar tantos fantoches (no caso, em oficina
de fantoches). Se aproveita temas, atividades, materiais, para trabalhar
com cada indivíduo, no que Vigotski chamou de “zona de desenvolvimento
proximal”, ou seja, naquele ponto em que o aluno pode se desenvolver com
ajuda, com mediação. Nesse sentido, a linguagem é importante, a
percepção multisensorial é importante, o envolvimento ativo é
importante, a interação social, prazerosa, lúdica, é importante. As
respostas, a expressão dos sujeitos na atividade, tudo é importante e
deve ser não apenas observado pelo professor mas retomado, dando
continuidade aos processos psicológicos em desenvolvimento. Nesse
sentido estamos tentando construir instrumentos de registros de
informações observados e pretendemos inseri-los em relatório a ser
enviado para a escola de origem, incluindo neste, informações
construídas sobre avaliação e planejamento constante.
Que desenvolvimento real tem a criança no contexto hospitalar.
É
muito difícil atestar precisamente que desenvolvimento real, pois este é
sobretudo, complexo, inter-relacionado nas áreas afetiva, cognitivas,
social, emocional, psicológica de maneira geral. É o indivíduo como um
todo que está sempre em processo de desenvolvimento, na sua constituição
como um sujeito peculiar.
1) Qual é o público alvo atendido pelo hospital Qual a faixa etária atendida?
Crianças, jovens, de 3 meses aproximadamente a 17 anos, com doenças crônicas e seus acompanhantes.
- Que profissionais trabalham na Instituição?
Atualmente,
a equipe médica (médicos e residentes); a de enfermagem (enfermeiras e
técnicas e auxiliares de enfermagem); equipe multiprofissional
(nutricionistas, pedagoga e auxiliares, uma assistente social e por
vezes profissionais solicitados para alguma intervenção específica, no
caso, fisioterapeuta e psicólogo); equipe de auxílio a atividades
gerais, como busca de exames, acompanhamento de pacientes, etc; equipe
administrativa (secretários da enfermagem e da clínica como um todo);
equipe de higienização e equipe da copa (entrega de refeições). Além
destas, existe uma equipe de voluntários que fazem esporadicamente
leituras nos leitos e auxiliam na organização e realização de festinhas
culturais que envolvem as duas pediatrias.
- A família participa de alguma atividade? Qual?
Sim,
são realizadas oficinas, em que os próprios acompanhantes são
estimulados a serem os ensinantes, valorizando assim, conhecimentos,
habilidades, auto-estima, iniciativa, participação, diminuição do
estresse, co-responsabilidade no contexto educativo, parcerias. Além
destas, são estimulados a brincar com as crianças, auxiliar nas
atividades escolares, quando possível, construir brinquedos, zelar por
eles e pelo ambiente. Através de conversas informais, são estimulados a
refletir sobre importância de estar junto com os filhos, brincar com
eles, como promoção de desenvolvimento, assim como incentivar os
estudos, ir a escola, estudar no hospital. São solicitados então, a ir a
escola de origem das crianças, buscar as atividades, trazer os
cadernos, livros, assim como eles próprios são incentivados a ler,
escrever, voltar a estudar, produzir conhecimento, buscando também
desenvolver-se continuamente.
6) Qual é a proposta pedagógica trabalhada?
Subsidiada
por teorias do desenvolvimento sócio-histórico-cultural, isto é, que
defendem a idéia de que o ser humano constrói conhecimento e a si mesmo e
o ambiente, na medida em que interage com o mesmo, através da mediação
de pessoas e instrumentos culturais, constituídos historicamente.
7) O que a instituição pensa sobre a questão da inclusão da PNEEs? Por que?
A
inclusão passa pela desconstrução de dicotomias normal-anormal;
saúde-doença; professor-aluno; incapacidade-capacidade; mente-corpo;
cognição-afeto.... dada a complexidade envolvida nos processos
ensino-aprendizagem, de criatividade, desenvolvimento humanos. Na
verdade todos nós seres humanos estamos em desenvolvimento, ontogenético
(de cada indivíduo) e filogenético (da espécie), ou seja, em busca de
soluções para avanço de nós mesmos. Infelizmente, como nossa sociedade
optou historicamente pelo capitalismo, muitas pessoas consideradas
ineficientes, improdutivas, passam ter mais dificuldade de acesso a
instrumentos promotores de desenvolvimento. Cabe a luta criativa pela
desconstrução de valores, práticas, concepções excludentes, e criação
constante de espaços e estratégias disseminadores e promotores de
inclusão, qualidade de vida e “avanço” (para não repetir novamente a
palavra desenvolvimento) pessoal e social.
8) Comente sobre o trabalho pedagógico e/ou atendimento prestado pela Instituição às PNEEs.
Precisamos
atuar em nossa própria “zona de desenvolvimento proximal” (Vigotski),
buscando instrumentos que nos auxilie a sempre construir conhecimento em
busca da melhoria do trabalho.
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